segunda-feira, 13 de abril de 2015

A atuação da KGB no Brasil e a falta de interesse pela verdade*

A prova do sucesso da KGB foi ter tornado a CIA o único “judas” a ser malhado

Antes de iniciar este artigo peço, encarecidamente, que o leitor NÃO ACREDITE nas afirmações feitas aqui; pelo menos, não sem antes consultar as fontes que menciono ao final, nas quais se baseiam as minhas declarações.
Feita esta ressalva, vamos ao texto:

Professores, universitários, advogados, jornalistas, e, como não poderia ser diferente, a opinião popular, costumam afirmar que o “golpe” de 1964, no Brasil, fora realizado pela CIA, a agência de inteligência americana, e que os militares brasileiros serviram apenas como ponta de lança da ação que culminou com a destituição do então presidente, João Goulart, o Jango.

Enquanto a CIA é citada como tendo envolvimento em tudo quanto é assunto (recentemente acusada pateticamente pelo deputado petista, Sibá Machado, de estar por trás das manifestações do último dia 15 de março), diametralmente oposta a esta situação, a KGB, serviço secreto da extinta União Soviética, simplesmente é omitida de todos os debates.

Um silêncio sepulcral paira sobre as inúmeras ações realizadas pelos russos no Brasil, antes, durante e depois de 1964. E, para piorar, qualquer um que se atreva a mencionar o nome das duas entidades, que não seja um militante de esquerda, já recebe a pecha de ser conspirador.

Certamente, em qualquer guerra, todos os lados envolvidos possuem sua parcela de responsabilidade. No entanto, não é o que se percebe nas falas e nos escritos relacionados às atuações da CIA e da KGB no Brasil – fato que por, si só, já torna este episódio no mínimo curioso.

Deixo uma pergunta: Se em 1964 estávamos vivendo o período da “Guerra Fria”, então, por que só é cogitada a participação americana no Brasil, enquanto a participação russa sequer é levada em conta? Só o fato de que inúmeros brasileiros recebiam treinamentos na então União Soviética, em Cuba e até mesmo na China já é motivo suficiente para se supor que a KGB estivesse, àquela época, planejando uma infiltração no Brasil.


Por outro lado, é inegável que os Estados Unidos tivessem interesse na vitória dos militares no combate ao comunismo. No entanto, a ação de tomada do poder por estas bandas foi concebida e executada exclusivamente pelos próprios brasileiros, embora os EUA estivessem na retaguarda, caso alguma coisa desse errado.

Para justificar a participação física dos americanos no golpe (ou contragolpe) de 1964, usam-se documentos supostamente atribuídos ao governo dos Estados Unidos, naquela que ficou conhecida como a “Operação Thomas Mann” ou “Operação Toro”.
Pois bem. Ocorre que tais documentos divulgados exaustivamente por toda a imprensa brasileira foram forjados pela espionagem tcheca no ano de 1964. A propósito, a agência tcheca chamava-se STB (Serviço Secreto da Tchecoslováquia) e trabalhava em parceria com a KGB que atuava no Brasil desde 1961.

O nome do autor da fraude, que inclusive escreveu um livro relatando tudo, é Ladislav Bittman. Ele chefiava o serviço de desinformação da Tchecoslováquia na América do Sul. Em seu livro “The KGB and Soviet Disinformation”, Bittman declara: “Queríamos criar a impressão de que os Estados Unidos estavam forçando a Organização dos Estados Americanos (OEA) a tomar uma posição mais anticomunista, enquanto a CIA planejasse golpes contra os regimes do Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba [...]. A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana; incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas”.


Embora as revelações de Ladislav Bittman tenham se tornado públicas no ano de 1985, a imprensa brasileira nada publicou a respeito. Talvez por ignorância ou, quem sabe, por não querer que a opinião pública viesse a tomar conhecimento da mentira que durante anos enganou o povo brasileiro. Por esta razão, continuamos perpetuando um engodo que já foi, há muito, desmascarado.


*Artigo originalmente publicado na revista Foco Carajás, edição 38 de jan/fev de 2015.

Fontes para pesquisa:

Livro: The KGB and Soviet Disinformation - an insider’s view  (Ladislav Bittman)
Vídeo importantíssimo: “A KGB nos arquivos da Tchecoslováquia”.(Mauro Abranches via YouTube)

Site com informações sobre a Operação Thomas Mann: http://www.ternuma.com.br/esquerda.htm. 

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