DESTRUIR O PRESENTE É A COISA
MAIS IMPORTANTE EM UMA REVOLUÇÃO
É comum hoje em dia atribuir-se ao termo “revolucionário” ou “revolução” as mais altas honrarias, como se o revolucionário fosse alguém à frente do seu tempo, um desbravador corajoso, um inovador contumaz ou aquele que luta contra a opressão social em defesa dos menos favorecidos.
“Jesus Cristo foi um grande revolucionário”, dizem alguns por aí.
“Vamos revolucionar o mundo através da educação”, asseguram campanhas governamentais demagógicas.
Fala-se como se toda revolução impulsionasse a humanidade rumo a um mundo de liberdade, igualdade e fraternidade. No entanto, a história registra o que de fato costuma ocorrer durante o desenrolar do processo revolucionário. Nada de flores!
Seguramente, o espaço deste artigo não é suficiente para aprofundar o tema, no entanto, a revolução, propriamente dita, é um movimento de revolta contra um poder estabelecido, que visa promover mudanças profundas nas instituições políticas, econômicas, culturais e morais, à custa de muito sangue. É o resultado inevitável provocado pela mentalidade revolucionária. Ou seja, para que uma revolução aconteça é necessário que se ponha fogo no estopim e é aí que os ideólogos revolucionários (a elite que conduz as massas) surgem em meio às brumas dos acontecimentos.
Tais mentores são homens que se consideram portadores de uma iluminação inequívoca, capaz de mudar toda a estrutura social e implantar uma nova era de “progresso” e “igualdade” e cujas mentes são assim definidas pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho:
“Mentalidade revolucionária é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”. Mas o tribunal da História é, por definição, a própria sociedade futura que esse indivíduo ou grupo diz representar no presente; e, como essa sociedade não pode testemunhar ou julgar senão através desse seu mesmo representante, é claro que este se torna assim não apenas o único juiz soberano de seus próprios atos, mas o juiz de toda a humanidade, passada, presente ou futura”.
O filósofo e escritor espanhol, José Ortega y Gasset, certa vez escreveu: “Nas revoluções, a abstração tenta sublevar-se contra o real: por isso o fracasso é consubstancial às revoluções.”
Dentre as inúmeras barbáries cometidas pela sanha revolucionária, em várias épocas, um episódio pouco divulgado chama a atenção e sintetiza exatamente o que foi exposto até aqui.
Em 1794, durante a Revolução Francesa – no auge do ‘Reino do Terror’ – soldados marcharam pela região da Vendéia, caçando (literalmente) todos os camponeses que haviam se levantado contra o governo revolucionário em Paris.
Sob o comando do general Louis-Marie Turreau, doze “colunas infernais” receberam ordens para matar qualquer um que vissem pela frente (incluindo mulheres, crianças e animais). Milhares de pessoas foram massacradas a sangue frio e, para que não restasse pedra sobre pedra, várias fazendas e aldeias acabaram incendiadas.
Histórias como esta, não são meros acidentes de percurso, mas o destino inevitável de uma revolução quando posta em prática. Para o revolucionário, o que importa mesmo é destruir o agora, apostando que das cinzas do terror e do caos, um futuro muito melhor possa emergir. Mera utopia!
A história revolucionária que nos é apresentada muitas vezes não condiz com a realidade e, longe de ser uma apologia ao heroísmo, defender revoluções (e seus mitos) apenas fomenta a barbárie e o totalitarismo, ainda que se doure a pílula.
É como bem nos alertou o apóstolo São Paulo numa de suas cartas: “Aquilo que o homem semear, isso também ceifará”.
*Artigo originalmente publicado na revista Foco Carajás, edição 38 de jan/fev de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário