Após a derrota no plebiscito de domingo passado (11) tenho encontrado dificuldades para me conformar com o resultado das urnas, embora respeite a decisão da maioria. O fato de respeitar não me impede que eu discorde e muito menos me conforme. Aliás, inconformismo é uma termo que não deve fazer parte do dicionário da população da capital, mas, fazer o quê?
O fato é que a divisão do Pará aconteceu; precisa agora oficializar.
Já estou do lado de cá, faz tempo...
2 comentários:
Meu irmãozinho Pedro, deixa eu lhe dizer. Saí de casa aos 14 anos para tentar continuar estudos em Belém. Era 1965, dia 5 de janeiro daquele ano, só cara e coragem.
Foram anos duríssimos! Não só pela fome, desemprego, desadaptação, pelo choque cultural, mas também pela aguda consciência de que aquela cidade francesa medieval e provinciana devorava qualquer um que viesse de qualquer parte do mundo.
Fiquei por lá em períodos que, somados, ultrapassam 20 anos. Vi, nesse período, a periferia rejeitada e empurrada para debaixo do tapete, vir subindo, subindo, invadindo o entorno, comendo pelas beiradas, até reduzir a cidade francesa a seus confins do tempo da belle époque: praças Batista Campos, da República, Cidade Velha com seu Ver-o-Peso e suas docas inservíveis (tanto que viraram núcleos de atração turística) em razão do assoreamento da baía.
Nesse tempo, fui jardineiro, vendedor de balão no Museu Emílio Goeldi, empurrei carrinho demão com frutas na feira da Pedreira, fui zelador de uma clínica particular. Menor de idade, então, não podia ter um emprego de carteira assinada com estabilidade.
Mas isso é irrelevante. O importante é que vi a burguesia "francesa" tornar-se cada vez mais decadente. Seus costumes sobreviveram,no entanto. Como, por exemplo, ir buscar adolescentes meninas no Baixo Tocantins e transformá-las em escravas domésticas (não tinham sequer salário) e prostitutas de pais e filhos dessa burguesia infame. Taí o exemplo do Seffer que não me deixa mentir. Ou seja, a exploração das meninas do Baixo Tocantins continua até hoje.
Brincando, brincando, a burguesia "francesa" vivia me lembrando que sou "preto", do "cu do mundo", falo "engraçado", sou "forasteiro de Marabá".
Eu fiz questão de manter essas coisas como um diferencial...
Adulto, fui telegrafista, auxiliar de enfermagem,calouro do Curso de Direito da UFPA, que larguei logo no começo para virar hippie, telegrafista da Western Telegraph Company, até ir batalhar na Província do Pará, uma central de cabeças arejadas e fantásticas.
Essas coisas também passaram. Eu permaneci o mesmo: o estrangeiro entre os franceses, o neguinho "inteligente" mas outsider. Afinal, aprendi definitivamente que o Pará, para os franceses decadentes, começa no Ver-o-Peso e termina em Val-de-Cães. Tem, no máximo, limite ao norte com a Ilha das Onças e, ao sul, com Ananindeua.
E eu com isso, mano velho?
Meus limites são o Araguaia desde nascente, a piabanha, o piqui, os babaçuais do Maranhão, os bodes infindos do Piauí, a Praia de Iracema.
Entre mim e o Pará vai um Atlântico nos separando, embora em goste muito da culinária do ParáNÂO.
Quando me perguntam que serventia tem a Alça Viária, digo sempre que é para levar a gente até Mosqueiro ou Algodoal.
Um abraço e paciência. É só uma questão de tempo a gente se ver livre deles.
PS: Desculpe os erros.
Escrevo com o coração.
Caro poeta Ademir.
Também acredito que é apenas uma questão de tempo e é isso que me conforta. Independente de interesses envolvidos em ambos os lados,acredito que a indignação popular foi demonstrada nas urnas, embora sufocada pelo colegiado de Belém.
Obrigado por seu comentário, é sempre uma honra saber que passou por este humilde blog.
Também não poderia deixar de destacar que seu coração escreve muito bem.
Abraço.
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